domingo, 20 de novembro de 2011

Números do Censo que revelam desigualdade social

CENSO 2010 IBGE A maior renda individual está concentrada no bairro Nova Betânia (R$ 1.762,90) e a menor está no Bom Jesus (R$ 339,22)

Postado em 19/11/2011 às 16:40 horas por Cristiano Xavier na sessão Mossoró

Bruno Soares
DA REDAÇÃO

A catadora de material reciclável Maria de Lourdes Horácio Silva acorda cedo todos os dias, prepara os filhos para ir à escola e faz o café em uma panela velha que é aquecida em um fogão a carvão. A primeira refeição do dia conta com uma pequena variedade de comida, pois não há muita coisa guardada no armário e geladeira.
Enquanto os meninos de 11 e 13 se vestem, o companheiro de Lourdes, Antônio Simão Filho de Menezes, entre um gole e outro da bebida quente, dá algumas marretadas nas paredes e instala caixas de tomadas, interruptores e fiação. Problemas de saúde e a dificuldade de enxergar o tiraram do trabalho mais pesado e lhe deram uma nova missão: construir a própria casa de alvenaria.
A família, que vive às margens da BR-405 no bairro Itapetinga, popularmente chamado de "Forno Velho", está saindo da moradia improvisada de barro, plástico e palhas para uma estrutura que vem sendo terminada com muito esforço do dono e solidariedade de algumas pessoas.
Na pequena residência, que já está coberta, há sala, quarto, cozinha e banheiro. O chão ainda é de barro e as paredes ainda deixam os tijolos à mostra. Nestes ambientes um guarda-roupa sem porta, uma geladeira antiga, duas camas de solteiro com colchões em péssimas condições, uma televisão de 20 polegadas e outros objetos são os bens que preenchem os espaços do lugar.
Tudo que o casal tem é fruto de doação. Desde a água que pegam para beber, tomar banho e preparar alimentos, até os materiais de construção que levantam e cobrem a casa.
A construção do imóvel é motivo de orgulho para o homem de 56 anos com aparência de mais idade devido ao cansaço de muitos anos de trabalho e a falta de preocupação em cuidar do visual. Ele lembra, sem saudades, o tempo em que morava na casa de taipa ao lado. "Quando chovia, a gente ficava se escondendo no canto das paredes para não se molhar. Só que tinha outro perigo: era cheio de cobras nas paredes. Já chegamos a pegar em uma pensando que era uma corda", conta Antônio.
Os dois, com sorriso fácil, não são de reclamar das adversidades. Eles preferem se apoiar na fé em um ser superior e agradecer a ajuda das pessoas que colaboram para a família continuar acreditando que é possível melhorar de vida. "Graças a Deus tem muita gente que nos ajuda. Nada do que tem aqui foi comprado. Tudo foi de ajuda que o povo dá", revela Antônio.
A catadora, que tem ainda uma filha de 14 anos e um rapaz de 16, não pede muito. Ela só quer que sua casa tenha abastecimento de água e algumas carradas de aterro para proteger a casa de alagamentos, que é comum em épocas de chuvas intensas. "Aqui quando chove muito fica tudo alagado, fica um córrego passando aqui dentro. A água já chegou aqui", disse ela, indicando na parede de barro a altura de mais ou menos um metro que a água acumulada no terreno já atingiu. "Se tivesse como colocar um aterro aqui ia melhorar muito. Fui pedir a um homem uma vez e ele disse que não dava, mas vendia por R$ 40,00. De onde vou tirar esse dinheiro? Não tenho condições de pagar isso", afirma.
A pequena renda da família vem do programa Bolsa Família - cerca de R$ 125,00 mensais - e do pouco que Lourdes consegue arrecadar vendendo os materiais recicláveis que encontra na rua durante a semana. "No final de semana vendo o que consegui e o dinheiro dá para comprar o feijão, a farinha para a gente comer", disse. "Tem vez que dá para fazer R$ 15,00, R$ 20,00. Tem dia que não dá para ganhar nada", completa.
A situação desta família é apenas mais um caso do que é facilmente encontrado em Mossoró. Recentemente a revista Veja publicou uma matéria sobre a renda per capita mossoroense. De acordo com o veículo de circulação nacional, no quesito geração de renda, Mossoró saltou de R$ 205,00 para R$ 628,00.
O Censo 2010 realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apresentou diversos indicadores sociais.
A pesquisa demonstrou que, embora muitos indicadores tenham melhorado em dez anos, no RN, as maiores desigualdades permanecem entre as áreas urbanas e rurais. O rendimento nominal médio mensal das pessoas de dez anos ou mais de idade, com rendimento, ficou em R$ 543,57. Na área rural, o valor representou menos da metade (R$ 241,52) daquele da zona urbana (R$ 627,14).
Em se tratando de Mossoró, o rendimento individual dos moradores dos 27 bairros contabilizados pelo instituto, demonstra que a desigualdade não se dá apenas entre zona urbana e zona rural, mas de um bairro para outro a diferença também é grande.
A maior renda individual está concentrada no bairro Nova Betânia - R$ 1.762,90. Os moradores do Centro têm em média R$ 1.676,45, os do bairro Presidente Costa e Silva têm renda de R$ 1.079,79 e Doze Anos R$ 1.059,55 completa o quadro dos quatro bairros que tem rendimento mensal acima de R$ 1 mil.
Dos 27 bairros, 12 não atingem o valor do salário mínimo que é de R$ 545,00. Os valores dos rendimentos mais baixos são registrados no Bom Jesus (R$ 339,22), Itapetinga (R$ 350,37), Barrocas (R$ 351,82), Alagados (R$ 357,21) e Lagoa do Mato (R$ 400,58).

IDOSOS - O Censo revelou ainda que a população com 60 anos ou mais em Mossoró é constituída de 25.920 pessoas. O número leva em consideração apenas os residentes na zona urbana. A maioria dos idosos residem no Abolição, enquanto o bairro Alagados é o que menos tem esta parcela da população.
O bairro Abolição - que, popularmente, é dividido em Abolição I, II, III e IV - conta com 2.575 idosos, 10,41% dos moradores desta área. Os bairros Alto de São Manoel (2.523), Barrocas (1.974), Santo Antônio (1.971), Bom Jardim (1.772), Lagoa do Mato (1.503) e Aeroporto (1.421), então entre os que têm mais idosos.
Outras localidades contam com uma pequena população com 60 anos ou mais. O Alagados tem somente 15 idosos, segundo a pesquisa. O Itapetinga possui quase o dobro (29 idosos), enquanto o Bom Jesus com 113, o Dix-sept Rosado (118) e Pintos (229) aparecem com menos idosos.
A população total chega a 28.277, sendo 11.793 homens e 16.484 mulheres. A zona urbana concentra 25.920 (sendo 10.474 homens e 15.446 mulheres) e a zona rural tem mais homens (1.319) do que mulheres (1.038), de um total de 2.357 moradores.
Segundo o IBGE, 14.442 são responsáveis por domicílios particulares. Em todo o Rio Grande do Norte esta categoria contabiliza 206.783 idosos.

COR OU RAÇA - A pesquisa detectou também mudanças na composição por cor ou raça da sociedade no Estado. Dos 3.168.027 habitantes em 2010, 1.303.592 se classificaram como brancos, 166.090 como pretos, 1.662.645 como pardos, 32.796 como amarelos, 2.597 indígenas e sem declaração 107 pessoas.
Registrou-se uma redução da proporção de brancos e o crescimento dos pardos no Estado e no País. Além disso, foi a primeira vez que um Censo Demográfico registrou uma população branca inferior a 50% no Brasil, inclusive, no RN (41,14% de brancos).
Dos 259.815 habitantes mossoroenses, 110.377 (52.147 homens e 58.230 mulheres) declararam ser da cor branca; 15.359 (8.159 homens e 7.200 mulheres) da cor preta; 3.553 (1.464 homens e 2.089  mulheres) da cor amarela; 130.346 (63.892 homens e 66.454 mulheres)   disseram ser pardos; 176 (83 homens e 93 mulheres) indígenas e quatro (dois homens e duas mulheres) não declararam cor ou raça.

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