domingo, 27 de novembro de 2011

Pesquisa quer tirar medo de idoso das novas tecnologias


Compreender a interação entre pessoas da terceira idade e gadgets eletrônicos (tablets, celulares, smartphones, Ipad). Este é um dos objetivos da pesquisa "Uso das novas tecnologias por idosos no Rio Grande do Norte", realizada pelos alunos do curso de Design da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). A ação é integrada como ensino, pesquisa e extensão e faz parte do Laboratório de Experimentação em Usabilidade (Lexus).


Aposentado, o professor Eimar Marinho disse que tira as dúvidas sobre navegação na internet com os filhos e não se sente constrangido. // Ana Amaral /DN/D.A Press. Elaborada por duas alunas, sob a coordenação do professor José Guilherme Santa Rosa, a pesquisa tem como propósito investigar a relação dos idosos com aparelhos tecnológicos, especialmente celulares. Além do estudo, a equipe pretende propor novos produtos e sistemas ou mesmo o re-design de produtos que sejam mais adequados às necessidades e especificidades físicas, motoras, cognitivas e sociais do público-alvo da pesquisa.

O projeto começou a ser desenvolvido em novembro do ano passado e teve continuidade durante 2011. Uma das técnicas usadas pelas alunas foi submeter 30 idosos com idade entre 60 e 70 anos a um teste com vários ícones usados pelas empresas fabricantes de telefones celulares para representar as opções mais usadas como mensagem, foto, contato, calendário e música.

A entrevista contou também com um questionário sócio-econômico em que foi possível traçar o perfil dos participantes da pesquisa e qual a relação deles com a tecnologia. Eles responderam que usam por lazer, trabalho ou para resolver algo foram algumas das questões respondidas pelos idosos que também afirmaram se esforçar para aprender a utilizar os recursos dos aparelhos devido às vantagens que eles oferecem.

Heloísa Fernandes Ferreira, aluna do 5º período de Design, é uma das pesquisadoras do projeto. Ela disse que mais de 80% dos idosos entrevistados responderam que os aparelhos são úteis e portanto se interessem em aprender a usá-los. "Alguns disseram que até se arriscam a ler o manual de instruções, mas a grande maioria pede mesmo ajuda para amigos e familiares sem constrangimento", relatou. O grupo entrevistado é heterogêneo e engloba pessoas de todas as classes sociais.

Após a entrevista sócio-econômica, os idosos passaram pelo teste com os ícones. As pesquisadoras misturaram imagens das cinco categorias citadas anteriormente e pediram que eles separassem os símbolos que representavam mensagem, foto, calendário, música e contato. Quase 100% dos idosos conseguiram definir os ícones mensagens e calendário. "Os símbolos com associação direta foram melhor compreendidos pelos idosos, ao contrário dos interpretativos", ressalta.

A equipe da pesquisa também descobriu uma atitude interessante entre os idosos questionados. Diferente dos jovens ou pessoas mais antenadas em comunicação e novas tecnologias que trocam de celular praticamente todo ano para acompanhar as novidades digitais, as pessoas da terceira idade só compram outro aparelho quando o celular apresenta algum defeito. "Normalmente eles preferem os mais práticos e com as letras maiores", constata Heloísa.

A pesquisa diagnosticou pontos positivos e negativos apontados pelos idosos durante as entrevistas como, por exemplo, dificuldade em enviar mensagens de texto, porém muitos disseram ter deixado de usar relógio depois que optaram pelo celular por achar mais prático e discreto. Ouvir música e acessar a internet também são funções indicadas pelos idosos como complicadas.

Um dos participantes da pesquisa foi Eimar José Marinho, 65 anos. Professor aposentado da UFRN, Eimar disse que usa bem o celular, mas somente as funções mais básicas. "Apesar do meu aparelho enviar mensagens, ter acesso à internet prefiro usar o computador quando chego em casa", conta ele. As dúvidas sobre a navegação nos meios digitais, ele disse que tira com os próprios filhos e não se sente constrangido.

Protótipo

Com os resultados obtidos na pesquisa, as alunas pretendem criar um mock-up, espécie de protótipo que será levado às indústrias fabricantes de celulares para que de forma prática atendam a maioria dos públicos. "A ideia não é excluir o idoso, mas incluir. Por isso vamos sugerir programas e ícones mais fáceis para que outros tipos de públicos que também apresentem dificuldade possam usar o celular sem medo", explica Heloísa.

A equipe da pesquisa pretende refazer os testes entre os idosos com os ícones que serão modificados e utilizados no protótipo. As alunas esperam levar a criação, mesmo em 3D, ao Congresso Mundial de Ergonomia que será realizado em Recife, de 12 a 16 de fevereiro de 2012. A ergonomia é a disciplina científica relacionada ao entendimento das interações entre seres humanos e outros elementos do sistema.

De acordo com o professor e coordenador da pesquisa, Guilherme Santa Rosa, com a pesquisa o grupo investiga um modelo de celular que "atenda às necessidades dos idosos e considere suas limitações, mas que também possa ser usado por crianças e adultos". A expectativa do professor é que ao longo do projeto, os 120 alunos do curso de Design sejam integrados ao estudo.

A meta do grupo é, alinhados à política da UFRN, tornar o estudoda Interação Idoso-tecnologia referência no Brasil. "Se considerarmos que, até 2012, os trabalhos oriundos desta pesquisa terão sido apresentados em congressos no Amazonas, Santa Catarina, Minas Gerais e Pernambuco podemos ter uma noção da amplitude do impacto da pesquisa na comunidade acadêmica de Design", disse o professor. Para ampliar ainda mais o estudo, o grupo pretende fazer pesquisas com profissionais das áreas de neurociências, medicina, fonoaudiologia, fisioterapia, sociologia e psicologia.

Curso de capacitação

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou nos últimos dias os dados dos Indicadores Sociais Municipais do Censo Demográfico 2010. Os dados da pesquisa constataram que a proporção de idosos no Brasil registrou um crescimento significativo na última década. Em 2000 o percentual de pessoas com mais de 60 anos aumentou de 8,6% para 10,8% em 2010.

Esse aumento mostra a importância do país investir de forma urgente em serviços básicos como saúde e assistência social, por exemplo, como uma maneira de suprir as necessidades dos idosos. Embora não seja lembrado pelo poder público, o acesso às novas tecnologias deveria também fazer parte de iniciativas que visem integrar os idosos à sociedade.

De certa forma, a deficiência deixada pelos órgãos públicos tem sido suprida por entidades privadas e organizações não-governamentais. Pensando em atender a demanda reprimida, a empresária Márcia Ortiz passou a oferecer em sua clínica aulas de informática, especialmente acesso à internet. "Muitos diziam que tinham vergonha de perguntar aos amigos ou familiares e que muitas dessas pessoas não tinham paciência para ensinar os comandos necessários para que os idosos pudessem utilizar os equipamentos eletrônicos", disse.

Com o objetivo de detectar as áreas de interesse dos idosos, a equipe faz um atendimento individualizado para detectar, inclusive, os objetivos e as expectativas do participante no curso. A partir de então é elaborado o programa de atividades, levando em consideração as habilidades físicas e cognitivas de cada idoso. "Eles diziam que nos almoços de família ficam sem saber do que os filhos e netos estão falando. São muitas novidades para eles, por isso montamos um curso com três módulos: básico, intermediário e avançado", conta.

No módulo básico os idosos aprendem a enviar email, mandar mensagens para os familiares e entrar em sites do interesse deles como os de receitas culinárias e Google Earth. Cada módulo tem duração aproximada de três meses porque muitos idosos têm dificuldade em lidar com os equipamentos e vocabulário específico das novas tecnologias.

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